O
professor e o aluno pesquisador...
https://youtu.be/gzpZ8lhgzmA HISTÓRIAS
E MEMÓRIAS DE ALUNOS E PROFESSORES DO LICEU MARANHENSE
Mahya Santos Santana (Liceu
Maranhense)- bolsista
- Geração Ciência
Ana
Paula dos Santos Reinaldo Verde (Liceu
Maranhense)- coordenadora Geração Ciência
O presente
trabalho teve por objetivo inventariar memórias e histórias de alunos e
professores, com faixa etária de 15 a 60 anos, do Centro de Ensino Liceu
Maranhense, utilizando-se do conceito como Inter geracionalidade, sexualidade,
gênero, pesquisa, inclusão, formação, identidade, gestão, proporcionando aos
mesmos a reflexão de suas experiências, práticas pedagógicas e identidade
escolar, que fazem parte historicamente do contexto escolar, possibilitando
assim uma reflexão, visão de uma determinada sociedade. A metodologia utilizada
foi qualitativa, com a utilização de entrevistas. Utilizamos autores como
Chartier (2002), Pimenta (1900), Pesavento (2001), dentre outros. Os resultados
apresentados direcionam para uma reflexão acerca do contexto escolar
contemporâneo, com uma diversidade cultural latente entre alunos e
professores.
Palavras chaves: Liceu
Maranhense. Memória. História.
1. INTRODUÇÃO - O Liceu Maranhense local da pesquisa
O Centro de Ensino Liceu Maranhense
iniciou suas atividades em 1838, em um pavimento térreo do antigo Convento do
Carmo situado na Praça João Lisboa em São Luís do Maranhão. Em 1941, o Liceu
Maranhense ganhou sua sede definitiva no Parque Urbano Santo, onde permanece
até hoje. No Liceu Maranhense atuaram e atuam professores e alunos que
participaram da construção da educação maranhense, os quais, por meio do
convívio com seus pares e mestres, contribuem não só para contar a história
intelectual, política e artística do Estado e do país, mas também a participar
da sociedade como cidadãos atuantes.
Desta
forma, o nosso trabalho tem por objetivo o resgate de memórias e histórias de
professores, com faixa etária entre 25 a 65 anos, e alunos, com faixa etária
entre 15 a 18 anos, que envoltos em suas práticas pedagógicas proporcionaram e
proporcionam reflexões e ações de suas experiências e identidade escolar, que historicamente
fazem parte do contexto social onde vivem, possibilitando assim uma visão de
uma determinada sociedade que de forma hegemônica estabeleceu padrões que
permaneceram e conduziram a conduta dos mesmos. Dessa forma, os objetivos deste
trabalho são: Inventariar relatos e memórias do cotidiano escolar que permeiam
sujeitos escolares (alunos e professores) inscrevendo tais relatos como uma
visão de uma determinada educação e sociedade. Comparar o conteúdo dos relatos
dos sujeitos escolares (professores e alunos) dentro de sua realidade com a
historiografia nacional, tendo como categorias: ensino; praticas pedagógica;
paradigmas educacionais.; historicizar o cotidiano e praticas pedagógicas que
marcaram professores e alunos no cotidiano escolar.
Com
as seguintes proposições: Quais lembranças do cotidiano escolar permeiam a
memória de alunos e professores? Como essas lembranças e memórias contribuem
para a construção e reconstrução da história da educação da capital do
Maranhão? Quais são as práticas pedagógicas que marcaram professores e alunos
no cotidiano escolar? Como alunos e professores percebem as mudanças educativas
no espaço tempo no ambiente escolar? A abordagem teórica metodológica que será
utilizada no presente projeto será pautada a partir da História Cultural,
considerando que, segundo Chartier (2002) o social só faz sentido no mundo das
representações, das práticas e das apropriações culturais, pois segundo Nunes
(2003, p.15) “as escolas são celeiros de memórias, espaços nos quais se tece
parte da memória social”. Através de relatos de professores e alunos podemos
conhecer a história da sociedade que a gerou, uma vez que a educação não é um
fenômeno neutro e a mesma esta diretamente ligada aos ocorridos da sociedade. Memória
e história são posições diferentes, na forma em que o presente vê o passado,
dessa forma, “a história é análise, é critica, é vida que flui e muda de acordo
com as necessidades sociais e as aspirações e esperanças do futuro” (PESAVENTO,
2005, p.220). Ou seja, a busca pela construção da memória e história de professores
e alunos em um dado contexto histórico é um reconstituir sobre a temporalidade
dentro do viés social.
Portanto, busca se
compreender e analisar as memórias e histórias dos sujeitos escolares, suas relações
concretas e plurais, suas inter-relações, entre professor e aluno, em suas
múltiplas definições e redefinições. Assim...
Escutando
os professores: o aluno-professor e suas lembranças pedagógicas...
Acredita-se que
acontecimentos importantes, marcados na história e na memória coletiva da
sociedade influenciam a maneira dessa sociedade de se relacionar com seu espaço
e certamente esta ligada a seus valores, conhecimentos e opiniões sobre o
lugar. O sentido das coisas e práticas no lugar é também fruto da memória.
Segundo Pesavento (2005)
A memória, longe
de ser meramente um espetáculo passivo ou um sistema de armazenamento, um banco
de imagens do passado, é isso sim, uma força ativa, que molda; que é dinâmico –
o que ela sintomaticamente planeja esquecer é tão importante quanto o que
lembra – e que ela é dialeticamente relacionada ao pensamento histórico, ao
invés de ser apenas uma espécie de ser negativo.
Ou seja, a memória é
algo dialético e histórico, e o conhecimento é diversificado a partir da
influência das subjetividades e das representações. E a história oral se
apresenta nesse conjunto. Os fragmentos de lembranças, assim, vão fornecendo
matéria-prima para a ação da memória, ao mesmo tempo em que os acontecimentos
vão sendo relembrados, surge os personagens, as cenas e o cenário.
A primeira entrevista é
com a professora Jacira Pavão, que atualmente esta como coordenadora pedagógica
do turno noturno e da área de Humanas.
Mahya - aluna
bolsista FAPEMA - sobre sua caminhada até chegar a Universidade?
Jacira Pavão: Eu estudei aqui no Liceu Maranhense, nos
anos de 1988,89 e 90 após eu ter terminado meu ensino médio eu adentrei no
curso de História na Universidade Federal do Maranhão, e lá passei, mas de quatro
anos, uns quatro anos e meio, me formei entrei no mercado de trabalho e vim
estagiar no aqui no Liceu né, o estágio que era pra ser um mês acabou sendo um
semestre todo né, estagiando que foi muito importante pra mim, e acima de tudo
por que naquele momento eu pude estar ocupando entre aspas claro, por que
ninguém pode ocupar o lugar de alguém, de uma professora muito querida, que
sempre serviu de inspiração, não só pra mim por estar fazendo o curso de
história de licenciatura plena na UFMA, como também amigos que eu acabei
conhecendo no curso de história da UFMA, todos influenciados por essa
professora, essa professora que era a Maria Raimunda de Oliveira, que foi hoje
ainda continua sendo minha amiga e nós mantivemos contato e essa relação começa
aqui no Liceu.
Isso
nos mostra que a profissão docente é uma tarefa complexa para intelectuais, que
implica num “saber fazer” (SANTOS 1998). Esta historicidade é uma dimensão relevante da prática pedagógica, pois permite
pensar os professores e alunos, como sujeitos, que incorporam e objetivam ao seu modo, práticas e saberes dos quais se
apropriaram em diferentes momentos e contextos de vida, depositários que são de
uma história acumulada (EZPELETA; ROCKWELL, 1989, p.28).
A professora de Matemática
do matutino Jacy Pires, concede entrevista a Mahya - aluna bolsista FAPEMA - sobre sua
caminhada até chegar a Universidade? Estudei aqui nessa escola durante três
anos e tive como inspiração os meus professores, e tive a certeza que queria
ser professora de Matemática, trabalhar com formação de professores, como algo
nato. E penso que a formação continuada de professores é fundamental para a
educação básica.
Os
professores exercem um papel relevante na estruturação e produção do
conhecimento pedagógico e estas ações refletem na instituição escolar, para o
aluno e a sociedade em geral. Desta maneira, o professor tem papel ativo na
educação e não um papel simplesmente técnico que se limita à execução de normas
e receitas ou à aplicação de teorias exteriores à sua própria identidade
profissional.
O
professor e o aluno pesquisador...
No contexto escolar faz
se necessário uma tomada de consciência histórica com postura metodológica
baseada na pesquisa, na qual se invista na autonomia do aluno, oferecendo
oportunidades para que o mesmo seja construtor do seu conhecimento,
contribuindo para que as várias reflexões que ocorreram e que ocorrem no
contexto educacional e na sociedade, se concretizem de fato em sala de aula.
Dessa forma, Mahya- aluna bolsista FAPEMA indaga a
professora de Física Elisiane, sobre a
sua experiência com a FAPEMA (Fundo de Amparo a pesquisa ao desenvolvimento científico
e tecnológico do Maranhão)?
Prof. Eliziane
Professora de Física - pesquisadora da FAPEMA - Com a FAPEMA, eu acho assim é uma experiência muito boa, é a segunda
vez que eu tenho, que eu consigo alguma coisa pela FAPEMA, eu consegui ano
passado ou foi retrasado, acho que foi ano retrasado, eu consegui que a FAPEMA
é bancasse, financiasse uma feira aqui no Liceu, realmente foi uma experiência
muito boa, a gente conseguiu, apresentou muitas atividades aqui pros meninos e
agora eu consegui mais um projeto em que eu inclui 4 bolsistas assim, então eu
acho que a FAPEMA tá fazendo um papel excelente de incentivo a divulgação da
ciência. Para mim, assim eu só espero que ela aumente mais e mais os recursos e
as possibilidades para nós.
Dessa forma a arte de
pesquisar pode ser construída na sala de aula, mas, sobretudo nas relações
sociais e pessoais nos diversos espaços que podem ultrapassar a sala de aula e
os muros da escola. Nessa perspectiva, é provável que possamos contribuir para
a formação de cidadãos críticos de sua realidade social e política, mas para
isso ocorra é necessário que os professores estejam comprometidos com a
educação, tornando-a um ato político, como nos fala Paulo Freire, pois, não há
mais possibilidades do profissional da educação ser um mero reprodutor de
conteúdos prontos e acabados.
Entendemos que para fazer pesquisa no contexto
escolar ou fora dele exige uma maior disposição seja
por demandar mais tempo, mais discussão teórica e metodológica, mas,
pode fazer da educação um espaço de produção de subjetividades mais complexa e
mais significativo em termos de produção e multiplicação de sentidos. Partindo
desse pressuposto fica claro que pesquisa e ensino são elementos indissociáveis
para a (re) construção de conhecimento histórico.
O
PIBID e o professor pesquisador no contexto acadêmico escolar
Mahya-
aluna bolsista FAPEMA -Como o senhor
trabalha com o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), já quer tem essa experiência, eu
gostaria que o senhor falasse um pouco sobre essa sua experiência nesses anos
que o senhor leciona aqui no Liceu e que tem o acompanhamento dos pibidianos.
Rafael professor de Filosofia e supervisor PIBID- É muito interessante, eu valorizo
muito a iniciativa do PIBID em geral por que dá bolsas para os alunos, então
você recebe para estudar para ser um pesquisador que a meu ver é ideal pra uma
formação acadêmica, já que o aluno tem mais dificuldades econômicas, enfim até ideológicas
ás vezes, até da questão de crise de identidade dentro do curso e tudo mais, o
que é normal da idade mas bom eu vi como uma medida muito interessante que
incentiva a pesquisa e o PIBID especificamente por que antes tinha o programa
PIBIC que é de iniciação cientifica e esse é especifico para docência até foi
implementado mediante ao quadro de desvalorização né, por que ninguém mais
queria fazer licenciatura então isso veio como incentivo para o aluno
permanecer na licenciatura que eu acho muito válido, eu acho muito positivo.
O
saber docente não é constituído apenas da prática, mas também pelas teorias da
educação, teoria essa crucial na formação dos docentes, pois concede aos
indivíduos diferentes pontos de vista para uma ação contextualizada, propiciando
perspectivas de análise, possibilitando que os professores conheçam os
contextos históricos, sociais, culturais organizacionais e de si próprios como
profissionais.
O professor e sua formação permanente no
contexto escolar
A formação dos professores
é apontada como uma das principais responsáveis pelos problemas da educação,
dessa forma Mahya-
aluna bolsista FAPEMA, pergunta a professora de Arte do noturno de Arte Elma
Ferreira, formada pela UFMA, sobre as dificuldades encontradas em sala de aula
e a mesma responde: a questão da
infraestrutura das escolas ainda é muito precária, aqui no Liceu temos uma
infraestrutura boa com relação a questão física, mas muitas vezes já planejei
trabalhar com com um recurso, como odata show, e tive que adotar meu plano B,
então decidi comprar um e me aparelhar para deixar as aulas melhores, sempre me
planejo e faço formações, pra que eu consiga acompanhar as mudanças que
acontecem na minha área, é importante o professor buscar formações, mesmo que a
escola não ofereça, eu tenho essa necessidade.
Pimenta
(2000), ao tratar da formação de professores para a constituição da prática
pedagógica enfatiza que se faz necessário pensar a formação dos professores, a
partir da reelaboração constante dos saberes que realizam em sua prática,
confrontando suas experiências nos contextos escolares, como espaço de trabalho
e formação constante que analisa a prática educativa como um triplo movimento
sugerido por Schön (), a saber: da reflexão na ação, da reflexão sobre a ação e
da reflexão sobre a reflexão na ação, à medida que o professor se compreende
como profissional autônomo.
A educação especial e suas
dificuldades em sala de aula
A inclusão no contexto
escolar pressupõe conhecer e discutir o Projeto Político Pedagógico da escola,
fazendo com que o mesmo possibilite na prática que o aluno com necessidades
educacionais especiais tenha condições efetivas de aprendizagem e
desenvolvimento de suas potencialidades.
É compromisso da
escola inclusiva: Promover mudança de atitudes discriminatórias – a escola
deverá trabalhar com quebra de tabus, estigmas, desinformação, ignorância – que
levam as pessoas a terem atitudes negativas em relação aos seus alunos com
deficiência. (MEC/INEP/Censo Escolar, 2006).
Mahya-
aluna bolsista FAPEMA, pergunta ao Professor de Arte Garcia Júnior, formado em
Artes Visuais pela UFMA, e supervisor do PIBID- UFMA de música, sobre alunos
especiais em sala de aula, e o mesmo responde: “Daqui a dois anos vou ter em sala de aula um aluno com deficiência
visual, e enquanto professor devido a quantidade de tarefas que a profissão
envolve, muitos alunos e salas, ou seja, uma carga horária que passa a ser
incompatível com essa especialidade, seria necessário um atendimento
individual, um acompanhamento com maior disponibilidade que contemplasse esses
alunos.”
A
inclusão deve ir além das leis e dos espaços definidos como regular ou
especial. Deve sim, referir-se ao que é importante para cada ser humano, em
cada época específica de sua vida, respeitando seus momentos, suas capacidades
e necessidades, e a escola deve estar preparada para o atendimento desses
alunos.
Falando
sobre sexualidade e docência: uma questão de inter geracionalidade
Vários são os motivos que
justificam a Orientação Sexual na escola: jovens bem informados costumam
iniciar a vida sexual mais tarde e com maior responsabilidade. Muitas famílias
não abrem espaço para o diálogo em casa e deixam essa função para a escola.
Assim, as crianças e os adolescentes conversam sobre sexo com os amigos e podem
receber informações incompletas, errôneas e preconceituosas, a televisão mostra
todos os dias, inúmeras cenas de sexo e de relacionamentos entre homens e
mulheres nem sempre de forma natural e saudável. Assim Mahya,
indaga: Sobre a questão da homossexualidade e da diversidade na sala de aula e a Professora de Sociologia Rosinéia
de 65 anos, responde: Eu vejo assim pra
mim ainda falta um pouco de esclarecimento para o alunato, e ai, mas esse, isso
acontece por conta da família, por que aquela família mais jovem né, que tem
pessoas mais jovens ela passa isso para o filho né, que homem é homem que não
sei o que, de não querer aceitar eu acho que a uma barreira ali.
É
com essa intenção que Sayão (1997, p. 113), afirma, o papel da escola é o de
ampliar esse conhecimento em direção à diversidade de valores existentes na
sociedade, para que o aluno possa, ao discuti-las, opinar sobre o que lhe foi
ou é apresentado.
A
sociedade absorveu ao longo do tempo, a lógica de que o indivíduo ao nascer é
macho ou fêmea, de acordo com suas características biológicas; e as famílias,
no seu papel de educá-los, oferecem-lhes uma educação onde esse perfil original
é exigido, sendo contrários a quaisquer outros perfis que não seja o padrão
exigido para toda a sua vida. Esta situação precisa ser tratada pelos
professores e alunos, no sentido de minimizar atitudes preconceituosas que
trazem resultados diversos que vão desde enfrentamento no ambiente da escola
até questões judiciais, sem perder de vista que o individuo estigmatizado por
homossexualismo pode ser excluído tanto da escola como da família, trazendo
possibilidades de ações adversas tanto a ele quanto aos que o rotulam.
Permanências
e avanços espaço tempo no ambiente escolar
Histórias e memórias de
professores e alunos contribuem para um entendimento de práticas pedagógicas que se constrói no cotidiano da ação dos mesmos, e é nesse sentido que pretendemos
efetuar esse projeto, fazer a interligação entre depoimentos e experiência, práticas
e a reflexões sobre a prática e que se
colocam como parte da própria prática, num movimento contínuo de construção,
como parte da experiência vivida pelos sujeitos e elemento essencial de
transformação da realidade (SCHÖN, 1992, 87).
Mahya, indaga o
professor Dídimo George, professor de Filosofia do diurno, sobre as permanências
e avanços na educação: o mesmo responde: “o
que deve permanecer na educação, o respeito ao professor, antigamente o aluno
respeitava o professor não só na sala de aula, mas em qualquer ambiente que ele
o encontrava, governadores desciam dos palanques para falar com os professores,
hoje se vê o desrespeito total, outra permanência da funcionalidade da escola,
mudanças de formação, os professores precisam ser ensinados a ensinar, mas
também ser ensinado em suas disciplinas”.
Está evidente que a escola mudou na maioria dos países apesar da
carência de recursos que continua a existir em alguns destes mesmos países, no
entanto poucos mudaram os conteúdos e as práticas pedagógicas que ainda estão arraigadas
no passado nostálgico. A ênfase dada à função da cultura na educação e em
particular na educação do tipo escolar supõe uma seleção no interior da cultura
com a reelaboração dos conteúdos da cultura destinados a serem construídas com
as novas gerações. Sabemos que a cultura escolar no contexto estudado
está hibridamente caracterizada pela concepção tradicional de escola-passado,
mas também bastante influenciada pelas inovações da escola presente-futuro, e o
papel do professor e seu respeito diante dos alunos e sociedade, sofre com
essas mudanças, pois o professor atualmente não é o único detentor do conhecimento,
havendo uma desestruturação/mudança na sociedade que afeta a relação entre
professores e alunos.
Escutando os alunos: a importância da escola para os alunos
liceistas
Entendemos a escola como um ambiente vivo e
habitado por várias culturas que precisam ser incluídas no currículo escolar
que deverá fazer interface com o mundo. Nunca se discutiu tanto sobre
necessidade de considerar o currículo real no contexto escolar e mais
focalmente no espaço de sala de aula. É preciso que os sujeitos que estão à
frente das discussões do trabalho escolar fixem o olhar para a diversidade que
compõe o tecido do universo escolar. Sobre a escola e sua importância para os
sujeitos escolares, Mahya, indaga a Louis, aluno do 3º Liceu e presidente do Grêmio
Estudantil - Qual a importância do liceu
para você enquanto escola? Uma segunda casa, onde se encontra pessoas de toda
cidade, trocando experiências, construindo ideologias, aprendendo enquanto ser
humano e profissional, resultando em uma educação de qualidade.
Mahya, indaga a Louis: Então, você como presidente do grêmio, eu
gostaria de saber como você se sente em presidir um grêmio que já tem uma
história tão ilustre?
Pois é, acima de tudo é uma responsabilidade muito grande né,
é por aqui já passaram grandes políticos, grandes figuras em geral da nossa
sociedade maranhense e isso traz um peso muito maior por que você precisa
corresponder às expectativas. É quando você entra em qualquer missão como essa
árdua, que é presidir um grêmio estudantil, você acha que muitas vezes tem que
mudar, tem que mudar a realidade das pessoas de forma geral, grandiosamente,
mas não eu acho que acima de tudo você deve conhecer é as pessoas muito bem,
deve atender as pessoas, ouvir conselhos e escutar o que, que o aluno, o que a coordenação,
o que a gestão preza dentro do espaço escolar e a partir daí você construir um
plano de trabalho, um projeto de trabalho melhor assim dizendo que vá
beneficiar os seus companheiros quando se trata dos estudantes, eu acredito que
nunca é nada demais, temos tentado trazer um trabalho inovado.. Por aqui já
passaram, por exemplo: José Sarney, que foi um dos primeiros presidentes do
grêmio estudantil Aluísio Azevedo, então é uma grande honra, só posso dizer que
é um prazer e uma honra contribuir de alguma forma com os meus colegas
estudantes.
A Nova História ou Historia Cultural afirma e possibilita a
“entrada” de novos objetos e sujeitos no campo da Ciência Histórica, não mais
apenas os grandes homens, poetas, presidentes, reis, mas, sobretudo a história
do cotidiano, de sujeitos antes não vistos, como alunos no espaço escolar, a
sua sexualidade, gênero, dentre outras temáticas, havendo um resgate do valor
da narrativa.
Assim precisamos ter
olhos no futuro, não podemos mais nos ancorar na escola do passado que se
limitava a ensinar a ler, escrever, contar e dar passivamente um “banho” de
cultura geral. Urge tratamos de novos valores, novas emoções e situações
típicas da cultura em rede, uma vez que a nova cultura exige uma participação
mais ativa dos alunos em tempo real; não podemos vendar os olhos a redes
informacionais que atravessam o espaço cibernético, como nos diz Carbonell
(2002), precisamos pensar a escola presente-futuro e não presente-passado, como
o faz as pessoas nostálgicas (p.16).
Michael aluno do 3º ano responde a Mahya sobre metodologias na sala de
aula: Boa parte dos professores tem uma metodologia carente, ultrapassada,
uma metodologia boa é aquela que dê um upgrade, nova cara ao ensino, fazer o
aluno pensar mais sobre o conteúdo, utilizando as TIC’s, unindo o útil ao
agradável, não falo sobre os professores não quero ser preconceituoso, mas
estamos no século XXI.
Mahya, indaga e
Michael, responde: Sobre as Novas Diretrizes para o Ensino Médio, não
concordo com tudo, mas a questão das escolhas das matérias é interessante, mas
tem a questão do ENEM como fazer, com as outras disciplinas?
A reforma do
ensino médio necessita urgente de uma efetividade política nas escolas
direcionada a formação de professores, o que vem prescrito na legislação, mas
não acontece, o que ocasiona um despreparo dos professores para enfrentar um
currículo interdisciplinar, ocasionando um aligeiramento na formação sem base,
e, sobretudo, num ensino cartesiano, e principalmente sem nenhuma ênfase na
pesquisa, desvalorizando o contexto escolar como ferramenta de formação
continua dos sujeitos ali inseridos. Observamos
que no Liceu Maranhense existe uma cultura ainda híbrida; um percentual de
professores atua em consonância com as práticas pedagógicas orientadas pelas
teorias pedagógicas atuais, no entanto, ainda precisa avançar no sentido de
disseminar tais práticas a todo um conjunto dos professores, que às vezes se
omitem de participar dessas atividades no coletivo da escola.
A relação do aluno com a gestão da
escola
Devido às mudanças no ensino médio, que começaram a
serem discutidas em 2016, e foi sancionada pelo Governo Federal sem nenhuma
participação direta dos sujeitos da escola, em várias partes do Brasil foram
feitas manifestações contrárias a tais medidas, devido, principalmente a
debilidade e a falta de infraestrutura nas escolas e salário de professores.
Nesse sentido, Mahya, indaga Marcos Vinícius, sobre sua relação com a gestão, e
ele responde: atualmente esta afastado da
mesma, devido a ocupação da escola ,m as a relação com a gestão é muito boa.
Segundo Jacomeli
(2007), as agências internacionais, como Banco Mundial, FMI, UNESCO, ditam o
quê e como devem os países em desenvolvimento investir para oferecer Educação
Básica para todos, e essa articulação foi dada em 1990 durante a Conferência de
Jomtien na Tailândia, que teve como resultado a “Declaração Mundial sobre a
educação para Todos”, como necessidade de adequar os países em desenvolvimento
aos interesses do capital estrangeiro, necessitando de mão de obra capacitada e
qualificada para o trabalho. O Estado aparece de forma minimizada, seguindo
regras dos agentes internacionais financeiros, em busca de qualidade,
eficiência, eficácia e, sobretudo, resultados que amenizassem
o descompasso entre as políticas educacionais e o contexto educacional real
brasileiro.
A gestão participativa no contexto
escolar- aluno/ professor/ gestor
O conceito de gestão escolar remete a Constituição
Federal de 1988, quando no seu Art. 206, afirma a “gestão democrática do ensino
público, na forma da lei” e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) nº. 9394/96, no seu Art. 14 destaca o preceito da gestão democrática
como um dos seus princípios, pressupondo a gestão democrática como um trabalho coletivo,
participativo e dialógico.
Sendo assim Mahya- aluna bolsista FAPEMA, pergunta
ao Gestor Geral do Liceu Maranhense Deurivan Sampaio, formado em História
(UFMA) e Letras (UEMA) e com especialização (cursos) em Gestão escolar, sobre
sua atuação como gestor: Em 2009 eu
realizei um sonho porque fui aluno do Liceu, voltei como professor, fui
coordenador de Área de Humanas, e em 2009, me candidatei a Gestor geral, e meu
sonho era não ter a escola quando eu estudava, era escola de confinamento, ou
seja, só passei como aluno sem participar ativamente da escola, o jovem tem o
direito de participar da escola., tem muito professor muito novo, que pensa que
o aluno tem que ficar na carteira sentado, sem participar ativamente da aula.
Um modelo democrático de gestão quando todos participam, mas de forma
consciente e com respeito, com regras. Um aluno com formação integral.
3. HISTÓRIAS
E MEMÓRIAS INCONCLUSAS
É importante olhar para dentro da escola e ver que
histórias estão sendo produzidas nesse espaço, construindo sentidos de práticas pedagógicas que podem
ser resultados de um processo que tem início na própria prática, na realidade, e que por muito tempo
não foi objeto de estudo por parte de teóricos da educação brasileira, sendo
concebida então, é concebida como totalidade concreta, como um todo que possui
sua própria estrutura, que se desenvolve, que se vai criando, na medida em que todos os
fenômenos e acontecimentos que o ser humano percebe da realidade fazem parte de
uma totalidade, ainda que este não a perceba explicitamente e que somente na
perspectiva histórico-crítica
ou dialética é que poderá compreendê-la por dentro, em seus processos, em suas
múltiplas relações, ou seja, o pensamento histórico-dialético resgata os
princípios de especificidade histórica e de totalidade da realidade e, do ponto
de vista metodológico, busca apreender e analisar os acontecimentos, as
relações e cada momento como etapa de um processo, como parte de um todo
(KOSIK, 1976).
Também estão nas práticas pedagógicas elementos gerais de sua constituição
histórica, políticas públicas e o momento sócio-econômico-político em que se
situam e que podem interferir de modo direto ou indireto nas práticas
pedagógicas, segundo políticas públicas estabelecidas (reformas educacionais,
implantação de novos currículos, submissão a processos de avaliação
institucional, etc.) e também segundo momento histórico em que se vive
(eleições de cargos públicos, paralisações de aulas e lutas das categorias
docente e discente por seus direitos, etc.).
Percebemos o quanto a escola ainda carrega
ainda o passado-presente em suas práticas pedagógicas, envolvendo memórias de
alunos/professores, e suas lembranças no presente passado nostálgico, onde professores
veem sua profissão como algo nato, relacionando o saber escolar e o saber
científico, mas, sobretudo, necessitando de uma formação acadêmica constante,
pra lhe dar com as necessidades contemporâneas: tecnologias virtuais, gênero,
educação especial, a motricidade nos aspectos físicos e mentais, ou seja, inteligências
múltiplas, e que o professor deve ter consciência de como explorar, de forma
plena.
Há uma necessidade constante de uma formação
permanente no contexto escolar, para atender aos alunos da geração x, y,
ambientados em rede e repletos de informações desestruturadas, cabendo ao
professor ser um profissional mediador, crítico reflexivo, que tenha na pesquisa
um apoio para construir juntamente com o alunado a prática da pesquisa e da
indagação constante, pois devem ser cidadãos ávidos a conhecerem seus direitos
e suas limitações.
Professor que exige respeito e que num
determinado tempo histórico foi respeitado em todos os ambientes em que frequentava
e até políticos desciam de seus palanques para cumprimentá-lo, e na
contemporaneidade tem seus direitos constantemente ameaçados por imposições de
um neoliberalismo legal que exige resultados constantes. Aferidos por exames
nacionais e internacionais, enxugando o currículo para conquistar uma maior
eficiência e eficácia. O contexto histórico mudou, mas as mudanças internas a
escola, a sua cultura e seu aspecto estrutural e legal, continuam e o professor
deve constantemente construir uma ressignificação constante do aspecto social e
político de sua profissão, com a revisão constante das
tradições no espaço escolar e da (re) afirmação de práticas consagradas
culturalmente e que permanecem significativas no mesmo.
A gestão participativa e democrática no contexto escolar é um caminho a
ser construído, espaço de autonomia na escola nos domínios da
gestão financeira, pedagógica, administrativa e cultural, ou seja, escola que
se abre à participação dos cidadãos não educa apenas às crianças que estão na escola,
mas constrói um cidadão consciente.
As ações práticas criativas abrem
caminho para o sujeito-professor refletir, no plano teórico, sobre a dimensão
criativa de sua atividade, ou seja, sobre a práxis (Heller, 1995), assim
a prática pedagógica é práxis, pois nela estão presentes a concepção e a ação que buscam transformar
a realidade, ou seja, há unidade
entre teoria e prática.
Nesse sentido, a prática e a reflexão
sobre a prática se colocam como parte da própria prática, num movimento
contínuo de construção, como parte da experiência vivida pelos sujeitos e
elemento essencial de transformação da realidade (SCHÖN, 1992, 87).
A prática pedagógica não só expressa o saber docente como também é fonte de desenvolvimento da teoria pedagógica, pois, ao exercer a
docência, de acordo com suas competências e habilidades, o professor enfrenta
desafios que o mobilizam a construir e reconstruir novos saberes num processo
contínuo de fazer e refazer, pressupondo limites
e possibilidades em constante estado
de tensão (PERRENOUD, 2000, p.98).
Vale
ressaltar que as práticas pedagógicas, segundo Carvalho (1994) é assim
entendida como uma prática social e como tal é determinada por um jogo de
forças (interesses, motivações, intencionalidades); pelo grau de consciência de
seus atores; pela visão de mundo que os orienta; pelo contexto onde esta
prática se dá; pelas necessidades e possibilidades próprias a seus atores e
própria à realidade em que se situam.
Acreditamos que o desenvolvimento desta pesquisa no
âmbito escolar é de suma importância, pois podemos pensar a pesquisa no processo
ensino aprendizagem como uma mediação de construção de conhecimento, tornando possível que o estudante compreenda que o saber ensinado é construído
e dessa forma, oportunizando o problematizar relacionado ao
conhecimento histórico escolar.
REFERÊNCIAS
BRASIL.
Ministério da Educação. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases
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