quinta-feira, 17 de agosto de 2017

RETENÇÃO ESCOLAR

Adriano Pinheiro – professor de História.
PUBLICADO EM O ESTADO DO MARANHÃO EM  7 - 01 – 16
A retenção escolar, antes conhecida como reprovação, é um problema inerente ao processo educacional. O que tem mudado com o tempo é a forma como esse problema vem sendo enfrentado. No passado, aqui no Brasil, o ensino de forma geral – tanto público quanto privado – era mais rígido e de maior qualidade. Havia castigos, exames de admissão para os egressos do primário que pretendiam cursar o ginásio e quem não aprendesse ou decorasse satisfatoriamente os conteúdos de cada disciplina estava automaticamente reprovado.
Hoje, as coisas mudaram. Aliás, desde a revolução cultural dos anos 60, os jovens se emanciparam e os pais já não têm a mesma autoridade que tinham outrora na condução dos destinos de seus filhos. Isso gerou uma juventude mais independente e determinada; mas, por outro lado, os valores morais perderam força ou se modificaram na relação entre pais e filhos, o que veio a ter desdobramentos no ambiente escolar. Os castigos e a retórica moralizante do passado hoje não surtem mais efeito, haja vista que temos alunos com um novo perfil, mais questionadores, hiperativos e que não aceitam receber passivamente os conteúdos e os valores repassados pela escola: querem desempenhar um papel ativo no processo de construção de seu próprio conhecimento. No bojo de toda essa transformação, no que diz respeito ao ensino público, tivemos uma queda substancial da qualidade. Isso porque o acesso ao ensino se universalizou para todas as camadas sociais e as autoridades não investiram proporcionalmente na nova demanda. No passado, esse ensino era para poucos, já que a maioria da população era analfabeta. Dessa forma, a retenção escolar não tem mais a mesma dimensão, não é mais uma simples opção para aqueles alunos que não tiverem um bom desempenho.
Vejamos: hoje, cada aluno da rede pública acarreta para o Estado um custo até maior do que no passado. A retenção, portanto, tornou-se onerosa para os cofres públicos. As escolas recebem verbas de acordo com o número de alunos matriculados. O aluno retido geralmente não quer repetir o ano na mesma instituição, de modo que a escola perde alunos e, por conseguinte, deixa de receber uma quantia proporcional de recursos. Diante desse cenário, é lógico que não seria correto extinguir a retenção, tampouco aprovar quem não tem as mínimas condições de ser promovido para a série seguinte. Porém, é possível criar alternativas para que o aluno não queira ser retido ou não tenha a ilusão de que vai passar de qualquer jeito.
Uma possível solução que vislumbramos para esse impasse é a criação de reforço escolar para aqueles alunos com mau desempenho durante o ano. Outra é deixá-los estudando durante as férias com professores contratados temporariamente. Essas seriam opções para evitar que esses estudantes repetissem a série – o que, de fato, ninguém quer. Temos de encarar a retenção escolar de outra forma, mais racional e coerente com os tempos em que vivemos.
Adriano Pinheiro – professor de História.
PUBLICADO EM O ESTADO DO MARANHÃO EM  7 - 01 – 16

Um comentário:

  1. Parabéns professor Adriano uma ótima reflexão sobre a educação brasileira.

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