Adriano Pinheiro
Professor de História
Publicado em O Estado do Maranhão em 30-01-16
Recentemente, acompanhamos pelos
meios de comunicação uma polêmica sobre a base curricular nacional comum para
as redes de ensino público e privado. Minha análise irá se limitar à disciplina
de História. Alguns críticos dessa nova base afirmaram que seriam excluídos do
currículo conteúdos vitais, como Revolução Francesa, Revolução Industrial,
Mesopotâmia, Egito, Grécia, etc. E, para por mais lenha na fogueira, declaram
que seria retirada também a História do Cristianismo. O que isso tem de
verdade?
Por muito tempo, o ensino de
História teve uma abordagem positivista e factual: o aluno decorava datas
importantes, grandes feitos e grandes personalidades. Era a história dos
vencedores! Durante o regime militar, duas disciplinas foram criadas para
reforçar os valores cívicos nessa mesma perspectiva, tais como OSPB e Educação
Moral e Cívica. Durante esse regime, que durou 21 anos, muitos professores
foram perseguidos e sofreram dura repressão. Em alguns casos, eles tinham
envolvimento com movimentos de esquerda, e os militares temiam que essa
influência ideológica chegasse à classe estudantil.
Com a redemocratização do país, a
orientação marxista se disseminou no meio acadêmico, sobretudo no campo das
Ciências Humanas. Isso ocorreu por convicção dos intelectuais, mas também,
certamente, pelo ressentimento em relação aos chamados “anos de chumbo”. Porém,
no final dos anos 80, com a queda do muro de Berlim, e nos anos 2000, com a
ascensão do PT ao poder, a Universidade ficou mais plural.
A base nacional curricular comum
consolidará esse processo de democratização do ensino. Ela não exclui os
conteúdos acima mencionados, nem sequer especifica conteúdos, mas sim temáticas
como: povos africanos, fraternidade, democracia, povos asiáticos, etc. O professor
terá autonomia para escolher os conteúdos mais adequados a cada temática. Por
exemplo: no tema “democracia”, pode-se trabalhar a Grécia; em “fraternidade”, é
possível abordar o Cristianismo. Essa proposta está no site
http://basenacionalcomum.mec.gov.br, ainda em fase de elaboração. Através dele,
alunos, pais e professores poderão dar sugestões sobre a base, até o dia 15 de
março. Para tanto, é necessário apenas preencher um cadastro.
Outro ponto importante é que as
temáticas comuns a todo o país são de apenas 60%; os outros 40% ficam
reservados a assuntos regionais. Com isso, é provável que o ENEM seja
reformulado, haja vista que ele não contempla nem a História nem a Geografia
regionais.
Em suma, toda a implementação da
nova base curricular nacional comum está sendo realizada de forma transparente,
com a participação da sociedade. A meu ver, porém, deveria haver uma divulgação
mais ampla pelos meios de comunicação. Outros países, tais como o Chile e o
Uruguai, já adotaram uma base nesse estilo. Se as coisas ocorrerem como estão
sendo planejadas, creio que teremos um ensino mais democrático e com um padrão
menos desigual.
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