Na
história da infância observa-se que a concepção de criança tem mudado ao longo
dos tempos, de acordo com a organização das sociedades. A criança não
representava, ainda, uma subjetividade social nas sociedades pré-industriais,
pois era vista como adulto em miniatura, que necessitava apenas de uma educação
disciplinadora.
Na
Idade Média, os adultos tinham outras formas de se relacionar com as crianças.
Sabe-se que o trabalho infantil (sobretudo a partir dos sete anos de idade) era
encarado com naturalidade. Não havia preocupação em proteger a criança dos
"segredos adultos": falava-se de sexo, e quiçá fazia-se sexo, na
presença de crianças - como sugere Ticiano no quadro Bacanal de las Andrians
(1518-1519), onde o pintor retrata uma criança, aparentando dois anos de idade,
no meio de adultos nus se tocando com luxúria.
A
arquitetura medieval, inclusive dos palácios e castelos aristocráticos, revela
um ambiente onde não há lugar para a privacidade: os cômodos eram interligados
entre si, e as famílias, compostas por muitos membros - avós, tios, primos,
agregados.
Adultos
e crianças medievais compartilhavam não só dos mesmos ambientes sociais, mas
também de um mesmo ambiente informacional, de um mesmo não saber: eram ambos
analfabetos, já que a leitura era um privilégio restrito ao clero. Escolas eram
raras ou inexistentes. Numa cultura da oralidade, não havia espaço para uma
divisão nítida entre infância e idade adulta. Os valores e costumes sociais
eram apreendidos pelos pequenos diretamente, a partir do contato com os
adultos, que não demonstravam grandes preocupações acerca da educação infantil.
A
criação moderna da prensa tipográfica, associada à alfabetização socializada,
veio mudar este quadro. Passou-se a imprimir e publicar diversos livros,
contendo saberes que se colocavam à disposição de quem soubesse ler. Desta
forma, surgiu um parâmetro claro e objetivo para diferenciar adultos e
crianças: os primeiros seriam aqueles que sabem ler e escrever; as últimas,
aquelas que deveriam passar por um processo gradual e lento, até adquirirem
este saber. A função da escola, neste momento, ganhou uma fundamental
importância: à escolarização se atribuiu a tarefa de ensinar às crianças a via
de acesso aos saberes que circulavam no mundo adulto (a alfabetização) e, simultaneamente,
prepará-las para este mundo através da disciplinarização.
Essa
revisão histórica da civilização ocidental nos obriga a concluir que as formas
de se conceber a infância variam, de tempo em tempo, de sociedade a sociedade.
Muito além do fator biológico, que aponta para características anatômicas e
fisiológicas específicas às crianças, cada contexto cultural é capaz de criar
uma maneira particular de concepção de criança, no sentido que as formas de se
relacionar com ela, e o próprio papel dela na sociedade, resultam de uma
complexa rede de valores e regras predominantes nesta sociedade.
Na
modernidade, a ascensão sócio-econômica da burguesia trouxe valores diferentes
dos medievais, e um novo modelo de organização familiar. Modelo este que
costuma ser chamado de família burguesa ou família nuclear - restrito ao núcleo
pai-mãe-filho(s). Nesta família, mãe e pai ganharam funções muito bem
definidas. A ela, caberia o cuidado com a casa, o marido e os filhos (atuando
no espaço privado do lar); a ele, caberia o sustento da família através do
trabalho remunerado (atuando no espaço público). Aos dois, caberia a obrigação
de amar e educar seus filhos, investindo neles uma perspectiva de futuro, de
progresso, condizente à conjuntura histórica da época.
Este
modelo familiar, hoje, parece estar em crise. É crescente o número de casais
separados ou divorciados, madrastas e padrastos, ou mães e pais que criam seus
filhos sem a ajuda de um cônjuge. A mulher, não mais confinada às atividades
domésticas, conquista um espaço cada vez maior no mercado de trabalho - e, não
raro, culpa-se por não dedicar aos filhos a atenção que julga dever dedicar.
Nas
últimas décadas, as transformações tecnológicas têm engendrado mudanças sociais
e psicológicas, configurando-se como um dos principais vetores de subjetivação
da contemporaneidade. Os meios de comunicação ensinam às pessoas novas formas
de agir e pensar. E as crianças, obviamente, não se excluem deste processo.
Verifica-se
que a concepção histórica de criança é resultado da intervenção humana,
portanto não é natural, imutável, nem eterna. A criança é contextualizada
culturalmente, inserida numa sociedade concreta e definida historicamente,
construindo dialeticamente a sua identidade social e grupal.
Precisa
ser respeitada e valorizada enquanto sujeito de direitos em direção a conquista
de sua autonomia e senso crítico e criativo. A concepção de infância mudou com
o passar do tempo, e hoje temos uma Legislação que reconhece a criança como
sujeito de direitos. Para fazer valer a lei faz-se necessário e indispensável a
atuação da sociedade civil organizada, o empenho do poder público e a luta pela
garantia dos direitos da criança, nas mais diversas instâncias, em direção à
conquista de uma sociedade mais igualitária e mais justa.
Assim,
propõem-se que a orientação sexual oferecida pela escola aborde as repercussões
de todas as mensagens transmitidas pela mídia, pela família e pela sociedade,
com as crianças e os jovens. Trata-se de preencher lacunas nas informações que
a criança já possui e principalmente, criar possibilidade de forma opinião a
respeito do que lhe é ou foi apresentado. A escola, ao propiciar informações
atualizadas do ponto de vista científico e explicar os diversos valores associados à sexualidade e aos comportamentos
sexuais existentes na sociedade, possibilita ao aluno desenvolver atitudes
coerentes com os valores que ele próprio elegeu como seus.
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